Por Bruno Tavares, SP2


O tatuzão da Linha 6-Laranja e a cratera formada na Marginal do Tietê após o acidente de fevereiro de 2022. — Foto: Montagem/g1

O laudo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), vinculado ao governo do estado, sobre a cratera que se abriu na Marginal Tietê depois do acidente nas obras da Linha 6-Laranja do Metrô, na Zona Norte, em fevereiro de 2022, isenta a Sabesp de culpa e coloca suspeitas sobre procedimentos da construtora Acciona, que faz a obra.

O relatório é peça-chave da investigação que apura as causas do acidente. A partir deste documento, o Ministério Público e a Polícia Civil devem apontar responsabilidades pelo desabamento

O SP2 teve acesso às 439 páginas do relatório. Nelas, técnicos do IPT indicam falhas na execução das obras da linha 6, que estão sendo feitas pela construtora espanhola.

O instituto afirma que três eventos levaram as obras ao colapso:

  • O primeiro, segundo os técnicos, é a fragilização do terreno.
  • O segundo, também de acordo com o IPT, é a execução do trecho final do túnel do metrô. Os técnicos dizem que no ponto onde esse túnel se encontraria com o poço de ventilação uma parede robusta de elevada resistência foi substituída por uma parede mais fina, revestida de concreto projetado. Os técnicos afirmam que essa nova configuração não ofereceu resistência suficiente para suportar os esforços produzidos pela passagem da tuneladora, a máquina conhecida como “Tatuzão”.
  • O terceiro foi a ruptura de pedaços do solo acima do túnel.

Em outro trecho, o IPT diz não descartar, ainda, a possibilidade de que perfurações de sondagem do solo, abandonadas e não vedadas corretamente, tenham contribuído para o acidente.

O laudo alerta para falhas na gestão de risco da obra e dá como exemplo que "mesmo depois do acidente, muitos funcionários ficaram no túnel, filmaram e tiraram fotos da inundação, em vez de evacuar a área”.

O documento afirma que a rede de esgoto da Sabesp, que passava 3 metros acima do túnel do metrô e que se rompeu no momento do acidente, não teve influência direta no desabamento. A conclusão é diferente da apresentada por um grupo especialistas internacionais contratado pela Acciona.

O IPT pontuou que os materiais do duto da Sabesp eram compatíveis com as especificações do projeto e que não houve rompimento da tubulação, e ainda que no momento do acidente as bombas da rede de esgoto da Sabesp estavam desligadas, ou seja, sem pressão.

Laudo da construtora

Já o laudo da construtora, de 96 páginas, vai em outra direção: relata "falha estrutural do túnel de esgoto". o documento aponta que "o vazamento de esgoto foi uma consequência mais provável da fragilidade" da rede da Sabesp, "que provavelmente operava sob pressão".

Afirma também que não houve movimentação de solo durante a escavação do túnel do metrô, e conclui que o sistema da Sabesp "não foi construído como projetado, deixando uma junta fraca (...) que provavelmente não seria capaz de sustentar até modestos níveis de compressão".

Tatuzão recuperado

Depois de sete meses submerso na água suja, o Tatuzão foi recuperado e voltou a escavar o túnel, em agosto do ano passado. A previsão é que a linha seja entregue entre o fim de 2025 e o início de 2026.

O relatório do IPT, que estava sob análise do governo de São Paulo desde 1 de novembro, chegou ao Ministério Público há poucos dias e já foi anexado ao inquérito civil aberto para apurar o acidente.

As investigações da promotoria e da Polícia Civil ainda não tem prazo para terminarem.

O que dizem as partes

A Acciona disse que está analisando o laudo. Em nota, a Sabesp informou que o laudo está em linha com as investigações da companhia e aguarda as investigações.

A Secretaria de Parcerias em investimentos afirmou que recebeu o laudo só no mês passado e que encaminhou o documento ao MP e ao Tribunal de Contas. Disse ainda que anexou o laudo ao processo administrativo que ainda está aberto.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!